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O que você deixou de ser quando cresceu?

Atualizado: 20 de out. de 2022



Semana do dia das crianças pra uns. Pra outros, além disso, feriado santo. E, pra mim, momento de curtir a mamis, que, de tão maravilhosa, resolveu nascer no dia dedicado aos pequerruchos. 12 de Outubro, via de regra, é data especial pra muitas de nós (a despeito de todo o viés capitalista das coisas), uma vez que o dia se apresenta como oportunidade socialmente validada pra se reconectar com a nossa euzinha do passado.


The new tradition da nossa geração internet-discada são as fotos de gente pequena bombando nas redes sociais. Fofo, né? Mas gosto ainda mais da ideia de expandirmos a reflexão pra além das fotografias com estética anos-90-vibes.


Tem sempre a galera que puxa o fio da “carta pra Eu criança”, o que eu acho válido. Também reparo que outras pessoas vão pra discussão importantérrima sobre “como devemos tratar as nossas crianças hoje (e sempre), em meio a tantas mudanças no mundo”.


Só que eu, nesse ano, estava mais imersa na ideia do “quero fotografar mentalmente cada segundo dessa experiência”. Como estava com a minha família comemorando duplamente a data, acabei não seguindo nem uma linha, nem a outra.


Resultado: curti horrores o 12 de Outubro! Mas depois recebi a visita ingrata da conhecida sensação de “você devia estar é mais atenta ao que estão falando e fazendo por aí nas redes da vida. Perdeu, Luminha!”. Fiquei mexida, mas rebati esse pensamento com um firme, mas não tão elegante, “devia nada, minha filha. Tô aqui vivendo o que é importante pra mim e se isso te deixa um pouco ansiosa e culpada, C’est la vie, você que lute”. Caso não tenha ficado claro: eu, Luma, que lute. Eu falo comigo mesma. E com os animais (e tá tudo bem).


Tudo isso pra dizer (1) que de uns tempos pra cá, como já venho dizendo pra todo mundo (até pra quem não pergunta), eu tô bancando as minhas prioridades. Então, o que vem no pacote eu me permito degustar, seja doce ou seja amargo.


E tudo isso pra dizer (2) que o que veio no pacote da vez foi o resgate de uma ideia enquanto eu fazia xixi (sério, esse é um momento bem contemplativo pra mim. Esqueçam a topografia escatológica. Até a Sandy faz xixi. Inclusive, é muito importante: bebam água e façam xixi). Enfim, fiquei pensando em uma frase que li num desses perfis de arte de rua. Era mais ou menos assim: “o que você deixou de ser quando cresceu?”. Lembro que na hora em que me deparei com isso o impacto foi bem batido: “Ah, isso é sobre o quanto deixamos de olhar a vida com doçura e curiosidade, como talvez uma criança faça”. Mas, fazendo esse meu xixi tempos depois, e ao lembrar da frase, fui por uma via diferente: “Poxa, apesar de ter tido uma infância regada de privilégios, uma família amorosa, algo bem normal até, acho que eu deixei de ser algumas coisas importantes conforme fui crescendo”.


Claro que esse pensamento de imediato me incomodou (“como assim? Você tá dizendo que você não foi uma criança saudável e feliz? Sua ingratinha!”). Daí, eu precisei vir até aqui me rasgar em palavras pra tentar entender melhor sobre a história que a minha cabeça estava contando.

Tudo isso pra, por fim, dizer (3) que chegamos ao ponto crucial desse textão recheado de mim mesma.


Considero que eu fui uma criança feliz? Sim. Tive bastante suporte e muito amor. Mas sinto que conforme fui crescendo, fui me tornando mais amiga de mim mesma, de um jeito compassivo e carinhoso que não me lembro de ter conseguido ser enquanto mais nova. Não culpo a minha família, sabe? Aliás, não busco culpado algum, não é sobre isso.


Só me recordo de um anseio por pertencimento (quase sempre via desempenho), por uma busca visceral por excelência que, talvez, disse talvez, tenha me custado um pouco caro. E numa fase da vida que eu não sabia nada sobre o preço das coisas.


Pensando nisso, acho que ao crescer deixei de ser tão autocrítica e passei a aceitar as minhas limitações, bem como a ver poder na expressão da minha vulnerabilidade. Nesse sentido, talvez hoje eu seja mais sonhadora e curiosa do que quando criança, pois me permito exercer cada vez mais a minha humanidade. Me abraço com muito mais frequência e, quando choro (era e continuo sendo muito chorona, aceite, João Bidu, capricornianos têm sentimentos) me culpo menos por isso.


Ao me relacionar com o meu sobrinho, que hoje tem quase 5 anos, é sobre essa responsabilidade que mais me apego: a de dar espaço pra que ele se ame e seja ele mesmo a despeito do que possa ganhar ou perder com isso. Ser criança, pra mim, tem essa conotação: ser com a liberdade de quem ainda não consegue (e nem precisa) compreender tudo do mundo.


E hoje, que finalmente compreendo, vivo “de bem” não só com a Luminha criança e com a aborrecente (que de problemática não teve nadinha. Inclusive poderia ter tido, pois era permitido). E, também, com a Luma adulta que hoje AMA ser Luminha AND Lumona. Que ousa sonhar e se jogar muito mais, mesmo considerando todos os riscos. Nós todas, juntas, formamos um time incrível! ❤



 
 
 

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