Ser ou não ser exausta, eis a questão?
- lumatdeffendi
- 6 de nov. de 2023
- 2 min de leitura

Das várias coisas que ouço, uma delas me pegou de jeito recentemente: “Mas, Luma, como você dá conta de tudo (o que faz)?”
A resposta, apesar de difícil de engolir, é absolutamente honesta: ao contrário dos ciborgues disfarçados de seres humanos que vemos por aí, eu, Luma, simplesmente não dou conta de tudo não!
Eu tenho 34 anos, e nessa altura do campeonato, sei que sobrevivo a algumas turbulências que, apesar de me chacoalharem muito, não me derrubam facilmente. E uma delas tenho enfrentado com bastante gentileza nos últimos anos, a de me responsabilizar pelos acertos e pelos erros que derivam das minhas escolhas. Só que o upgrade da bagaça é que tais escolhas, sempre que possível, devem estar alinhadas com aquilo que acredito com todo o meu ser. Bom, é uma melhoria danada, mas não elimina totalmente os bugs do processo. Até porque, se eliminasse, eliminaria junto toda a mágica da vida e isso não é uma possibilidade pra mim.
Continuando: não tão recentemente assim, percebi que eu queria mais do que só produzir conteúdo relacionado ao meu trabalho, mais do que só me ferrar tentando acertar sempre, mais do que adiar o contato com aquilo do que não se pode escapar (a dor, a ansiedade, a raiva, a culpa, etc.) e resolvi que eu também queria produzir lembranças das quais me orgulhasse, momentos em que o coração ficasse quentinho e que os pés deixassem de tocar o chão. Mas pra isso acontecer eu teria que, invariavelmente, trabalhar menos (e enfrentar as diversas consequências disso).
Com uma ligeira angústia como companhia, puxei o ar e me lembrei do que sempre digo pras minhas clientes amadas: viver uma vida valorosa envolve tomar decisões difíceis e dolorosas. Na prática, pra mim, isso significaria enfrentar a decisão agridoce de encaminhar alguns processos na clínica. Foi o que eu fiz.
E houve beleza e também houve a constatação doída da prepotência e da arrogância, que por vezes ainda tenho, de me achar invencível, insubstituível. Eu sei que esses achismos todos são construções em mim, em nós psicólogas e em muitas outras de nós. E tudo bem, vai levar um tempo pra aprendermos modos mais sustentáveis e saudáveis de ser em concordância com aquilo que precisamos fazer pra sobreviver no mundo.
No fim, teve choro, teve abraço, teve tristeza misturada com gratidão e teve gratidão misturada com dúvida. Teve compreensão, teve história pra contar (e pra ainda ser criada), teve afeto e teve efeito. Em mim, em nós e em cada nó que se desatava pra outro se formar. Sinto falta de trabalhar até a exaustão? Não.
Sinto falta das pessoas, do desenrolar dos casos, dos textos bem escritos, das aulas recheadas de conhecimento. Mas também me sinto mais enérgica, disposta e presente. E, no momento, é disso que eu preciso.
Talvez amanhã precise fazer novas escolhas pra continuar vivendo a vida que desejo e estou aberta a tal. Como já disse, meus 34 anos me ensinaram a ouvir a mim mesma, buscar nos meus valores um guia sólido pra deliberar e, sempre que possível, ser gentil e perseverante. É o que sigo tentando fazer.
Com amor, e dedicado e pra cada pessoa querida que já cruzou o meu caminho na clínica,
Luminha
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