Sobre a minha mãe, sobre as outras mães e, sobretudo, sobre o SER sobreposto à maternidade.
- Luma Deffendi

- 8 de mai. de 2021
- 3 min de leitura

Falar sobre mães pra mim é, ao mesmo tempo, simples e complicado.
Simples porque se eu escolho uma abordagem que leva em consideração a relação que tenho com a minha mãe tudo se resume a pouco, o que na verdade é muito: amor.
Minha mãe é a minha vida, gente. 🥰
Quem me conhece sabe que o meu pódio é todo dela, que meus olhos enchem d'água toda vez que eu penso na nossa história juntas (nos momentos difíceis e nos dignos de vídeo cassetadas do Faustão). Sabe, se eu acreditasse em alma gêmea ela seria facilmente a minha. Somos genuinamente diferentes: ela bagunceira, eu metódica; ela desbocada, eu polida (quase sempre); ela otimista, eu realista. Mas também somos imensamente indissolúveis: eu olho, ela já sabe; eu sinto, ela sente também; eu penso, ela responde. Claro que temos nossas tretas: imagina uma combinação de libra (ela) com capricórnio (eu)? #jovemmísticadetected #chorrindo
Zoerinhas astrológicas à parte, às vezes dá 💩 sim e a gente briga, acaba até se magoando. Mas onde há espaço para diálogo e expressão honesta de sentimentos também há reconciliação e possibilidade de ajuste de comportamento. Toda vez que penso na nossa relação, várias boas lembranças, sentimentos e sensações são evocadas: lembro do dia em que ela chorou de rir porque uma mulher (do nada) tentou matar uma abelha no meu ombro em Porto-Seguro. Sempre que penso nos nossos abraços sinto um calorzinho na altura do peito e sou capaz de sentir o cheiro do seu hidratante favorito. Quase não lembro que ela já me fez passar vergonha na frente dos migos durante a aborrecência, que já me deu uns safanões e que é incapaz de estar pronta no horário combinado. As dificuldades existem, mas o que nos conecta é imensamente mais forte e significativo do que qualquer perrengue.
Porém, eu tenho total conhecimento de que nem todas as relações entre mães e filhos são assim tão expressivas e íntimas, e é aí que o lance começa a ficar complexo.
Normalmente, ao abordar esse assunto também é preciso admitir que existem várias idealizações da relação perfeita, da mãe perfeita, da filha perfeita. Por mais que a nossa relação seja majoritariamente saudável, ela é imperfeita e cheia de desafios (e nem poderia ser diferente, somos duas #serumaninhas).
Não é raro que filhos não se identifiquem com as próprias mães e também não é difícil encontrar quem viva tais relações de modo emocionalmente instável e inseguro (em ambas as direções). Para essas pessoas, deixo o meu abraço carinhoso e o que acredito que pode ser um aconchego: não é porque a cultura criou a instituição família que você precisa escolher fazer parte dela. Se não faz sentido, se é uma relação que aprisiona e produz predominantemente sofrimento, você tem todo o direito de se sentir desconfortável e de buscar afeto em outros lugares e em outras pessoas.
Além disso, ainda existem as lacunas deixadas pelas mães que já se foram e todo o sofrimento advindo dessas perdas. Tem também quem nunca pôde conhecer a mãe e quem, ao conhecê-la, não se sentiu validado nessa experiência.
Falar sobre o assunto também é complicado se levarmos em consideração a triste realidade de que, muitas vezes, ser mãe não é opcional. Acaba sendo uma direção culturalmente imposta pela nossa sociedade machista. E mais, não dá pra ser qualquer mãe, viu?! Tem que ser uma mãe modelo, que ame incondicionalmente e que abdique de todos os seus objetivos e necessidades em favor dos filhos. O objetivo final é ser aquela mãe de comercial de margarina que, ao mesmo tempo em que sustenta o papel de esposa e provedora exemplar, também mantém o sorriso no rosto, a casa limpa e uma carreira profissional em ordem.
O que nós, enquanto sociedade, fazemos com as mães chega a ser cruel. Desqualificamos o seu papel, invalidamos os seus desejos, impomos expectativas inalcançáveis e promovemos a sua solidão. Então, por mais que seja óbvio vou escancarar: mães também são seres humanos e, como tal, merecem ser imperfeitas, precisam de apoio, de espaço e de amor.
Nesse dia das mães, além de enaltecer a minha mamis, também desejo visibilidade, respeito e dignidade para todas essas mulheres incríveis que, muitas vezes, passam despercebidas e têm a sua história reduzida à maternidade. Ser mãe deveria ser uma experiência escolhida, real e humana. Que chegue o dia em que isso seja, finalmente, possível!
Mães, obrigada! Vocês são FODAS! ❤️





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