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“Sonho meu...” – O sonhar pra Análise do Comportamento


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Quando falamos sobre sonhos, é bem comum ouvirmos coisas do tipo: “Aí eu tava lá vestida de Power Ranger rosa quando, de repente, o avião pousou no meu quintal (que não era o meu quintal de verdade) e... E eu acordei!” - quem nunca vivenciou uma conversa assim que atire a primeira pedra.


Só que, quando despimos o sonho dessa vestimenta fantasiosa, o que resta? Ou seja, o que é o tal do sonhar para a Análise do Comportamento?!


Sonhar é um comportamento como qualquer outro, logo está sob controle das mesmas leis que regem quaisquer outras coisas que fazemos (ou pensamos, sentimos, etc). É um comportamento perceptual (ver, ouvir, cheirar, tocar) que se dá na ausência do objeto percebido (porque você tá lá dormindo, dã), que só nós mesmas acessamos de forma direta (podemos contar pros outros, mas não é a mesma coisa) e construído verbalmente (aprendemos a contar pros outros sobre o que sonhamos, construindo assim uma narrativa).


Mas por que sonhamos, afinal? É pra prever o futuro ou desbravar as minhas ancestralidades? Muita hora nessa calma! Vamos aos poucos...


Três níveis para entender os sonhos


Em nível filogenético (história biológica/evolutiva), o sonhar tem as funções de consolidar memórias, processar os estímulos todos aos quais somos expostas em vigília, repor substâncias bioquímicas e ajudar na sobrevivência da espécie. Se nós, em pleno 2021 ainda sonhamos, é porque esse comportamento foi selecionado ao longo do tempo e tem uma função importante né, manas!?


Já em nível ontogenético (história individual), são as nossas experiências únicas que determinarão o conteúdo e a frequência do que sonhamos (o que fazemos, quais os nossos valores, as relações que mantemos, do que gostamos ou não, etc.). Nossos sonhos contém elementos que já foram percebidos, ao menos de alguma forma em nossas vidas, não tem jeito.


E no nível cultural, podemos dizer que rola uma hipervalorização do sonhar, certo? Além do quêzinho místico associado aos sonhos, quando abrimos a nossa intimidade pra alguém e contamos sobre o que sonhamos, sempre rola um biscoitinho social (e uma interpretação a la livrinho de jogo do bicho. É sucesso garantido na mesa de bar). Ou seja, socialmente falando, obtemos atenção, construímos teorias em grupo sobre significados ocultos e fortalecemos crenças.


O bizarro é a regra


“Mas, Luma, os sonhos são meio bizarros às vezes.” Aham, eu sei.


Em primeiro lugar, por estarmos dormindo, não existem muitas regras e limites (físicos, temporais, sociais). Meio que tá tudo liberado durante o sono. Além disso, sonhar também é um comportamento simbólico, o que quer dizer que somos capazes de transferir significados a estímulos funcionalmente equivalentes (yukê?). Tradução simplista: a gente relaciona as coisas (aparentemente) nada a ver uma com a outra e é isso.


Resumo: sonhar é importante e os sonhos podem ter significados, mesmo que pareçam completamente bizarros (e não precisa ter nada de misticismo envolvido). O comportamento de sonhar contém elementos peculiares da história de vida de cada um e deve ser contextualizado de modo a respeitar isso.


Então, gatinha, fique atenta aos seus sonhos, mas não leve isso tão a sério a ponto de basear a sua vida (e suas escolhas) apenas no que o seu eu dorminhoco tem a dizer. Não é porque o seu dente quebrou enquanto sonhava que vai ter morte na família (ou traição iminente), viu? Deixa essa interpretação pro #xóvemmístico mais próximo!


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